sábado, 13 de fevereiro de 2010

Paranapiacaba

O dia amanhece com raios de sol, depois de vários dias de chuva, sinto vontade de ir pra rua, sinto vontade de esvaziar-me do caos, quero contato com o solo, com a terra, então vou a esse encontro com a natureza.
Saio da cidade e parto rumo a Paranapiacaba, vou sozinha em busca de mim mesmo, em busca do que não conheço de mim, do que não conheço do outro, do que não conheço dessa Vila que parece que parou no tempo, um tempo onde as pessoas ainda colocam as cadeiras nas varandas, os vizinhos ainda se conhecem, onde não se tem medo de ser gentil.
De repente a chuva chega, continuo andando, a chuva aumenta, ela minha companheira dos últimos dias, mas agora não estou aflita, não tenho que correr pro trabalho nem pra chegar em casa, sinto a chuva como algo que me limpa do mundo, do caos dos últimos dias.
A palavra solidão me cai bem, me faz leve, sem o peso das cobranças.
Ficaria muito tempo nesse lugar, por algumas horas perco a noção de tempo, me preocupo apenas com o espaço que ocupo ou que não ocupo, possibilidades de idas e vindas.
De repente me vejo nua diante do mundo, sou frágil; não quero fugir de mim, então me olho, me encaro, respiro e prossigo.

Nádia

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sessão Fala Viela


Em um domingo de chuva chego a um lugar que nunca fui, embora tenha passado inúmeras vezes em frente, isso me faz perceber que não olho o mundo a minha volta, que não observo a cidade que moro, que não enxergo o outro.
Nesse lugar que não é bonito, pelo contrário é feio, mas é um feio de descaso público, de falta de respeito à cidadania com as pessoas que moram ali.
É no alojamento José Fornari que algo acontece de bonito, é a exibição de filme ao ar livre (“3ª mostra de cinema"), exibição essa que acontece quinzenalmente pelo esforço de um grupo de pessoas que resolveram não se acomodar, que resolveram se indignar com as injustiças sociais, e essa indignação vem na forma de arte.
Convidada pelo Núcleo de Comunicação Marginal vou à Sessão Fala Viela pela primeira vez.
A chuva aumenta e o público pega seus guarda-chuvas e continua assistindo, o filme de hoje é “O contador de histórias”, bela escolha, um filme brasileiro, humano e belo, real e emocionante.
Saio transformada porque apesar da chuva o público permanece, saio indignada porque muitos ali nunca tiveram a oportunidade de irem ao cinema, mas saio principalmente com a sensação de que é preciso sair do discurso, de que é necessário arregaçar as mangas pra que o mundo funcione como deveria, para que todos tenham as mesmas chances devemos sair da zona de conforto, do estado de inércia.
São iniciativas como essa que me faz acreditar que ainda vale a pena ser humano.

Nádia Costa
Foto: Christian Piana